A obesidade é uma doença multifatorial, de difícil controle através de tratamentos clínicos. Algumas pessoas apresentam muita dificuldade para perder peso, mesmo que pratiquem atividades físicas e dietas adequadas. Por isso, quando o paciente apresenta determinado grau de obesidade, em muitos casos, pode ser necessário algum tipo de intervenção cirúrgica. A cirurgia bariátrica, por exemplo, surge como uma alternativa reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina.

Ter conhecimento sobre o assunto é importante, afinal, uma a cada cinco pessoas no Brasil tem obesidade, segundo dados de 2017 do Ministério da Saúde. Esses números são crescentes e, consequentemente, a procura por tratamento também.

Continue a leitura e entenda o que é a cirurgia bariátrica, as técnicas utilizadas, seus riscos, benefícios e indicações.

O que é a cirurgia bariátrica?

A cirurgia bariátrica existe há cerca de 60 anos e envolve um conjunto de técnicas que visam reduzir o estômago para inibir a fome e reduzir a quantidade de alimentos que o paciente ingere. Consequentemente, também há perda significativa de peso.

Alguns tipos podem diminuir a absorção de alimentos pelo organismo, o que também ocasiona a redução de peso. Os melhores resultados aparecem em pessoas que mantêm uma dieta saudável e praticam exercícios regularmente.

Quando a cirurgia bariátrica é indicada?

A cirurgia bariátrica é uma opção terapêutica para o controle da obesidade e redução de doenças dela decorrentes como diabetes tipo 2, pressão alta, apneia do sono, gordura no fígado, problemas articulares, entre outras. Para você ser um candidato à bariátrica é preciso obedecer alguns critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Medicina, são eles:

•Índice de Massa Corpórea (IMC) = ou > 40kg/m² ou IMC = ou > 35kg/m², com no mínimo uma doença associada à obesidade, tais como: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, excesso de colesterol/triglicérides, apneia do sono, artrose de joelho/quadril/coluna ou hérnia de disco, etc.

•Ou IMC > 30kg/m² para pacientes selecionados portadores de diabetes tipo 2 e indicados por 2 endocrinologistas (Cirurgia Metabólica).

•Fracasso de tratamentos clínicos por dois anos.

•Controle ou ausência de doenças que tornem o risco cirúrgico inaceitável, tais como: insuficiência respiratória, insuficiência cardíaca, cirrose do fígado.

Quais os tipos de cirurgia bariátrica?

Atualmente predominam duas principais técnicas para a cirurgia bariátrica: o Bypass Gástrico de Y de Roux e a Sleeve (do inglês “manga da camisa”).

•Bypass Gástrico de Y de Roux

O desvio gástrico em Y de Roux é geralmente realizado através de uma incisão de 3 a 4 polegadas na parte superior do abdome. Demora cerca de 90 minutos e internação varia entre dois e quatro dias. Essa técnica já é realizada há mais 20 anos e consegue reduzir para 10% a capacidade do estômago, ou de 50 a 80 ml. É realizada confecção de uma pequena bolsa por meio de cortes com grampeadores, com auxílio da laparoscopia (pequenas incisões).

O jejuno é ligado, por meio de um grampeador, com uma bolsa gástrica. Como o intestino foi seccionado, ele está, momentaneamente, fora do trânsito. Por esse motivo, o médico faz uma nova anastomose do intestino remanescente com a primeira porção do jejuno que foi cortada. Isso resultará em um formato de Y, que é o que nomeia esse procedimento. Pela criação de uma pequena bolsa de estômago, os pacientes comem menos e ficam “cheios” mais rapidamente.

A cirurgia permite a ingestão de quase qualquer tipo de alimento, mas limitando a quantidade, propiciando a mudança de hábitos alimentares saudáveis. Em contraste com os procedimentos malabsorventes, o bypass gástrico em Y-de-Roux não promove diarreia, problemas com gases ou desnutrição.

•Sleeve

A gastrectomia vertical (sleeve) é uma cirurgia bariátrica restritiva. Durante este procedimento, o cirurgião cria um pequeno estômago em forma de manga. É maior do que a bolsa de estômago criada durante o desvio em Y de Roux e tem aproximadamente o tamanho de uma banana.

A gastrectomia vertical é tipicamente considerada como uma opção de tratamento para pacientes de cirurgia bariátrica com um IMC de 60 ou mais. Muitas vezes, é realizado como o primeiro procedimento em um tratamento de duas partes. A segunda parte do tratamento pode ser bypass gástrico.

Com esse método, o médico transforma o estômago em um tubo que tem uma capacidade de volume em torno de 100 a 120 ml, retirando 80% do volume gástrico inicial. No estômago é produzido um hormônio chamado grelina, que tem a capacidade de induzir a fome. A partir dessa restrição, o paciente passa a perder peso.

Por meio dessa técnica é possível amenizar ou remir diversas comorbidades relacionadas à obesidade. Os pacientes submetidos à gastrectomia vertical apresentaram taxas de resolução para diabetes tipo 2, pressão alta, colesterol alto e apneia obstrutiva do sono semelhantes às taxas de resolução para outros procedimentos restritivos, como a banda gástrica.

Riscos da cirurgia bariátrica

Se antes o paciente precisava ficar de jejum por um longo tempo e dormir no hospital na noite anterior, hoje isso não é mais necessário: o jejum deve ser apenas de quatro a seis horas. Além disso, com a laparoscopia e os cortes pequenos, a recuperação do paciente é mais rápida e efetiva — há casos em que a alta é recebida no mesmo dia da cirurgia ou no dia seguinte.

Após a cirurgia, os cuidados devem ser redobrados para evitar a desnutrição, sendo essencial o acompanhamento multidisciplinar. O paciente deve seguir todos os cuidados e recomendações médicas após os procedimentos.

Um estudo publicado pela revista científica Obesity Surgery, realizado na Finlândia entre 2009 e 2013, comparou 3.918 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica com 9.688 pacientes que passaram por diferentes tipos de cirurgia. Os resultados indicaram que as taxas de mortalidade para cirurgia bariátrica eram muito baixas e, em alguns casos, até menores que as de cirurgias tradicionalmente tidas como muito seguras como, por exemplo, a cirurgia de vesícula (colecistectomia), artroplastia de joelho e histerectomia. O estudo concluiu que a taxa de mortalidade no pós-operatório de cirurgia bariátrica é de 0,08% após 30 dias e de 0,36% após 1 ano de realizada a cirurgia.

A cirurgia bariátrica é um procedimento de mudança de vida. Por isso, o candidato deve atender a todos os requisitos, para que possa se qualificar para a cirurgia, além de seguir todas as orientações médicas pré e pós-operatórias, para o sucesso do procedimento.

FONTE: Dr Aderson Aragão – Cirurgião Bariátrico (CLÍNICA GASTROS – TERESINA/PI)

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