A Cirurgia Bariátrica e Metabólica está consolidada como um tratamento eficaz contra a obesidade grave. O avanço de técnicas e tecnologias levou a especialidade a se tornar uma alternativa segura e eficiente não só para tratar a obesidade, mas também doenças associadas como diabetes, hipertensão e outras agravadas pelo excesso de peso. Apesar dos avanços a cirurgia bariátrica ainda tem um crescimento tímido.
No Brasil, o número de cirurgias bariátricas realizadas entre 2012 e 2017 aumentou para 46,7%, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica-SBCBM. Ainda, assim, esse percentual não supre a realidade da população elegível para fazer a cirurgia bariátrica (4,9 milhões de pessoas). Vamos buscar na história da cirurgia bariátrica as causas desse tímido avanço, uma vez que a cirurgia bariátrica surgiu há mais de 60 anos.
O surgimento da cirurgia bariátrica remota à década de 50. A primeira cirurgia bariátrica realizada para redução de peso foi o bypass (desvio) do intestino, idealizado por KREMEN E LINER em 1954, que retirava mais de 90% de componentes do intestino fino (jejuno e ileo), ocasionando uma má absorção intestinal. No entanto, as pesquisas iniciais de redução de estômago, tentando diminuir a capacidade absortiva do trato intestinal, é atribuída a W. PAYNE, de Los Angeles. A cirurgia de PAYNE promovia um desvio de parte do intestino delgado e do intestino grosso (jejuno-colônico), com área de desvio superior a jejuno-ileal. No entanto, o procedimento ocasionava complicações nutricionais e metabólicas decorrentes da má absorção, e outras graves complicações.
Na década de 60, surgiram os primeiros trabalhos de restrição da capacidade gástrica, por meio de gastroplastia e de alterações na parte distal do estômago, verificando, assim, mudanças nos hábitos alimentares e reduções no consumo de alimentos sólidos. Em 1966, o cirurgião EDWARD E. MASON, da Universidade de Iowa, desenvolveu o bypass gástrico. O médico utilizou grampos cirúrgicos para criar uma partição entre o estômago superior, de forma a reduzir a ingestão de alimentos. A nova técnica iniciou uma nova fase da CIRURGIA DA BARIÁTRICA. Em 1982, EDWARD E. MASON foi o primeiro a utilizar o plano vertical para a redução da cavidade gástrica. Foi proposta uma banda de reforço na abertura distal da nova cavidade, com o objetivo de evitar o seu alargamento e a dilatação da cavidade. Essa técnica passou a ser conhecida como gastroplastia vertical com bandagem. Nos últimos anos, foi proposto o uso de um anel de contenção, para diminuir a velocidade de esvaziamento gástrico. Alguns estudos mostraram que a perda de peso obtida ao longo de períodos maiores que dois anos foi insatisfatória.
Partiu-se, então, para uma nova proposta de procedimentos mistos (restrição+disabsorção). Em 1979, foi apresentada outra variação da cirurgia bariátrica, o BYPASS BILIO-PANCREÁTICO descrito por SCORPINARO que pode levar a grandes emagrecimentos, porém as complicações nutricionais e problemas evacuatórios continuaram a ocorrer.
Desta feita, outro procedimento misto foi proposto no final da década de 80 e início da década de 90 pelos doutores FOBI e CAPELLA, que combinavam uma redução maior ou menor do estômago com algum grau maior ou menor de desvio do intestino delgado produzindo um estado de má absorção intestinal. A cirurgia desse tipo é a gastroplastia vertical com bypass gastrointestinal com ou sem anel de silicone na bolsa gástrica. Chegou-se assim a um procedimento com excelentes resultados e com menor incidência de complicações cirúrgicas e nutricionais. Esta cirurgia se tornou um MARCO DA CIRURGIA BARIÁTRICA MODERNA, tornando-se o procedimento mais realizado no mundo, conhecido como “Bypass Gástrico”.
A partir de 1991, inicia a era da videolaparoscopia em cirurgia bariátrica. Este procedimento, além de somar segurança, é menos invasivo, fazendo com que a recuperação e o retorno à vida normal ocorram com muito mais rapidez, além de melhor resultado estético.
No contexto do Brasil, a cirurgia bariátrica inicia-se na década de 1970 com os trabalhos do cirurgião da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) Salomão Chaib utilizando técnicas de derivações jejuno-ileais do tipo Payne (1969). Apesar de no início os resultados terem sido desanimadores, com problemas de segurança para pacientes e resultados limitados, médicos e cirurgiões cooptado por Arthur Garrido Jr mantiveram pesquisas e acompanharam as principais tendências internacionais da especialidade, em conformidade ao desenvolvido na década de 1980 por Edward E. Mason, cirurgião americano primeiro a introduzir o conceito de restrição gástrica, que levou ao desenvolvimento de técnicas como o bypass gástrico, gastroplastia horizontal e gastroplastia vertical com anel de polipropileno.
Durante a década de 1990 outras técnicas como a derivação bílio-pancreática de Scopinaro e, principalmente, o aprimoramento das derivações gástricas em Y de Roux passaram a oferecer maior segurança e resultados mais consistentes em médio e longo prazo. A gastroplastia vertical com anel de Mason foi progressivamente substituída como abordagem de restrição puramente mecânica pelo emprego das bandas gástricas ajustáveis, logo adaptadas à via vídeolaparoscópica.
As derivações bilio-pancreáticas ganharam a variante “duodenal switch” de Hess e Marceau. A partir de 2000, as técnicas disponíveis passam a ter execução possível por vídeolaparoscopia, hoje consenso de indicação primária, aumentando ainda mais a segurança do procedimento e principalmente diminuindo a morbidade e a mortalidade destas operações.
Atualmente, novas técnicas e abordagens surgem para o tratamento cirúrgico da obesidade grave e de doenças metabólicas. As tecnologias incorporam-se às técnicas dando maior precisão e segurança, como a cirurgia robótica. As pesquisas e estudos não param e cada vez mais surgem inovações para tornar a cirurgia bariátrica mais eficaz e segura.
FONTE: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica